segunda-feira, 4 de maio de 2009

Dom Quixote de Barro

Essa noite tive um sonho estranho. Sonhei que era Dom Quixote. Na verdade uma estátua de Dom Quixote feita de barro. Caminhava sem rumo por estradas sem nexo, procurando algo que já não sabia mais o que era. Lembro da tristeza no peito, peso nas costas e as lágrimas nos olhos, que iam pingando no meu corpo e que derretiam aos poucos o meu corpo avermelhado. Era um Dom Quixote sem espada, sem Sancho e principalmente, sem Dulcineia. Não passava de um louco sem rumo, como todos os loucos são na realidade. Aos poucos fagulhas de lembranças cortavam meu cérebro trazendo-me de volta o porquê da minha melancolia. Era a rejeição. Estava em um momento de colapso, onde não tinha mais o amor de minha amada. Rejeitado e obrigado a viver no exílio de minha imaginação agora mais obscura do que fantasiosa. Entrava em um momento de abstinência do amor, onde tinha que deixar de acreditar em meus ideais e passar a ser aliado da solidão. Esse era o meu conflito interno, que me fazia continuar vagando sem rumo e com lágrimas nos olhos. O corpo derretia a cada passada e a cada passada um rastro vermelho se formava atrás de mim, como se houvesse sido apunhalado no coração em cheio. E o barro derretido, simbolizava o rio de sangue derramado pela estrada. Duas passadas... Cinco passadas... Vinte passadas... Quarenta passadas... E mais nenhuma passada. Os pés já não mais existiam e muito menos as pernas. Restava apenas metade de um peito inclinado no chão, um braço, uma cabeça desfigurada e uma respiração ofegante. Pra ajudar a tristeza que me rodeada, já materializava em tempestade a dor que terminava de me jazer naquele chão de terra batida. As lágrimas desciam, as gotas caiam e o corpo se desfazia, agora já por completo, restando apenas um coração. A única parte verdadeira daquele corpo, feita de carne e condenada a se perder. Sobre as gostas da chuva o coração aos poucos ia sendo limpo e o barro sendo fundido com o chão para sempre. E por fim, o silêncio. Não existia mais Dom Quixote. Não passava de um coração abandonado no meio de uma estrada que não vem de lugar nenhum e não vai para lugar algum. Era finalmente, o fim. Destinado a todo poeta apaixonado e sonhador, fadado a sentir dor pelo amor que perdeu em algum lugar lá atrás. Cabe agora esperar que novas chuvas remexam o barro e modelem um novo ser, que pode não ser um novo Quixote, mas... Que ao menos seja alguém que encontre o que procura... E o mais importante... Que não o perca!



Diogo Nery

Um comentário:

Unknown disse...

Que ao menos seja alguém que encontre o que procura... E o mais importante... Que não o perca!